O canto do galo na Bíblia

 

 

     É muito comum ouvir que Pedro negou a Jesus três vezes antes do galo cantar, mas será que existia um galinheiro com galos e galinhas em Jerusalém naquela época? A Bíblia confirma que o galo cantou naquela noite, ou quase todas as pessoas interpretam dessa maneira? “QUE O GALO CANTOU TRÊS VEZES QUANDO...”


“Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, para onde vais? Jesus lhe respondeu: Para onde eu vou não podes agora seguir-me, mas depois me seguirás disse-lhe Pedro: Por que não posso seguir-te agora? Por ti darei a minha vida, respondeu-lhe Jesus: Tu darás a tua vida por mim? Na verdade, na verdade te digo que não cantará o galo enquanto não me tiveres negado três vezes”. (João 13:36-38)


E, estando Pedro embaixo, no átrio, chegou uma das criadas do sumo sacerdote; e, vendo a Pedro, que se estava aquentando, olhou para ele, e disse: Tu também estavas com Jesus, o Nazareno, mas ele negou-o, dizendo: Não o conheço, nem sei o que dizes, e saiu fora ao alpendre, e o galo cantou. E a criada, vendo-o outra vez, começou a dizer aos que ali estavam: Este é um dos tais, mas ele o negou outra vez, e pouco depois os que ali estavam disseram outra vez a Pedro: Verdadeiramente tu és um deles, porque és também galileu, e tua fala é semelhante. E ele começou a praguejar, e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais.  E o galo cantou segunda vez, e Pedro lembrou-se da palavra que Jesus lhe tinha dito: Antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás, e retirando-se dali, chorou. (Marcos 14:66-72)

 


UM POCO DE CURIOSIDADE!


A missa do galo tem algo a ver com o texto acima citado?


Missa do Galo é a missa celebrada na véspera de Natal que começa à meia noite do dia 24 para o dia 25 de dezembro A expressão “Missa do Galo” é específica dos países latinos e deriva da lenda ancestral segundo a qual à meia-noite do dia 24 de dezembro um galo teria cantado fortemente, como nunca ouvido de outro animal semelhante, anunciando a vinda do Messias filho de Deus vivo, Jesus Cristo.


Uma outra lenda, de origem espanhola, conta que antes de baterem as 12 badaladas da meia noite de 24 de Dezembro, cada lavrador da província de Toledo  em Espanha, matava um galo, em memória daquele que cantou quando São Pedro negou Jesus três vezes, por ocasião da sua morte. A ave era depois levada para a igreja a fim de ser oferecida aos pobres que viam, assim, o seu Natal melhorado. Era costume, em algumas aldeias espanholas, levar o galo para a Igreja para este cantar durante a missa, significando isto um prenúncio de boas colheitas. Mas isso era antigamente pois agora isso é proibido.

Outra origem da expressão é citada em o “De onde vêm as palavras”, de Deonísio da Silva. Como o fato de a Missa de Natal normalmente terminar muito tarde "quando as pessoas voltavam para casa, os galos já estavam cantando".

O galo também anuncia o nascer do sol e o seu canto simboliza o amanhecer, comemorado pelos pagãos como forma de agradecer ao Deus-Sol o surgimento do sol após o longo período de inverno. A missa do galo é normalmente comemorada com muita alegria.

 

Pelo visto a missa do galo tem tudo a ver com o texto bíblico!

Mas na verdade o texto referido acima não afirma que o canto do galo era realmente de uma ave. Durante séculos o que prevaleceu como interpretação era que o canto do galo nos evangelhos (Mateus 26; Marcos 14; Lucas 22 e João 13), era uma ave daquela região que cantava para anunciar a madrugada.

 

UM POUCO DE HISTÓRIA JUDAICA!


De acordo com o (BABA QAMA 7:7) que era o primeiro de uma série de três tratados talmúdicos, era proibido criar aves do tipo “GALO”, em Jerusalém por questões de higiene por ser uma terra considerada santa.

 

1 - Eles não podem criar gado miúdo na Terra de Israel, mas eles podem criá-los na Síria ou nos desertos que existem na Terra de Israel

2 - Eles não podem criar galos em Jerusalém por causa das Coisas Santas, nem os sacerdotes podem criá-los [em qualquer lugar] na Terra de Israel por causa de [as leis concernentes a] alimentos puros.

3 - Ninguém pode criar porco em qualquer lugar

4 - Um homem não pode criar um cão a menos que seja mantido ligado por uma corrente.

5 - Eles não podem criar armadilhas para os pombos a menos que seja de trinta ris (6436 metros), de um lugar habitado.

 

Do ponto de vista desse regulamento era impossível criar aves, o que podemos concluir que o canto do galo não era de aves, e muito menos de um galo, até porque a casa do Sumo Sacerdote ficava no centro de Jerusalém.

O suposto canto do galo era um “toque de trombeta” da guarda romana, conhecido como (GALLICINIUM) que significa “canto do galo” quando Pedro fez a sua terceira negação a trombeta ecoou e Pedro lembrou.

Segundo a Enciclopédia da Bíblia, o cantar do galo citado nos evangelhos era um nome dado a terceira vigília da noite, de meia noite às três da manhã.

Caio Plínio, historiador romano (23-79), diz que o toque da trombeta da meia-noite, era conhecido como o primeiro cantar do galo, e o toque das 3 horas  da manhã era conhecido como o segundo cantar do galo.


Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o senhor da casa; se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã. (Marcos 13:35)


Assim era a divisão:


Tarde: Por do sol

Meia-noite: Primeiro toque da trombeta

Cantar do galo ou madrugada: Segundo toque da trombeta

Manhã: Nascer do sol.


Assim era a troca da guarda romana, todo período da noite, eram quatro divisões (vigílias):


Primeira (Prima) vigília: Por do sol até 9 horas;

Segunda vigília: 9 horas até meia-noite;

Terceira (Tertia) vigília: Meia-noite até 3 horas;

Quarta vigília: 3 horas ate o nascer do sol.

 

Textos de apoio:

Levanta-te, clama de noite no princípio das vigias; derrama o teu coração como águas diante da presença do Senhor; levanta a ele as tuas mãos, pela vida de teus filhinhos, que desfalecem de fome à entrada de todas as ruas. (Lamentações 2:19)


Chegou, pois, Gideão, e os cem homens que com ele iam, ao extremo do arraial, ao princípio da vigília da meia-noite, havendo sido de pouco trocadas as guardas; então tocaram as buzinas, e quebraram os cântaros, que tinham nas mãos. (Juízes 7:19)


E sucedeu que ao outro dia Saul pôs o povo em três companhias, e vieram ao meio do arraial pela vigília da manhã, e feriram aos amonitas até que o dia aqueceu; e sucedeu que os restantes se espalharam, de modo que não ficaram dois deles juntos. (I Samuel 11:11)



Os judeus inicialmente dividiam a noite em três vigílias:


Primeira vigília: Por do sol até 10 horas;

Segunda vigília: 10 horas até 2 horas da madrugada;

Terceira vigília: 2 horas ate o nascer do sol.

 

No entanto, em tempos posteriores, na época do império romano a noite passou a ser dividida, segundo o costume dos romanos em quatro vigílias. Veja no texto abaixo:


“Mas, à quarta vigília da noite, dirigiu-se Jesus para eles, andan-do por cima do mar”. (Mateus 14:25)