ESTUDO DA CARTA DE PAULO AOS ROMANOS
J. DIAS
A IMPORTÂNCIA DA EPÍSTOLA
A epístola
de Paulo aos romanos, segundo Martinho Lutero, é a principal composição do Novo
Testamento e a mais pura descrição dos ensinos contidos nos Evangelhos. Romanos
é a maior, mais rica e mais abrangente declaração do apóstolo Paulo sobre o
Evangelho. Calvino escreveu “que entre as muitas e notáveis virtudes, a
Epístola possui uma em particular, a qual nunca é suficientemente apreciada, a
saber: se porventura conseguirmos atingir a genuína compreensão desta Epístola,
teremos aberto uma amplíssima porta de acesso aos mais profundos tesouros da
Escritura”.
João Crisóstomo, o maior pregador do
século V, pedia que Romanos fosse lido em alta voz uma vez por semana.
Agostinho, Lutero e Wesley, três figuras extremamente importantes para a nossa
herança cristã, viveram a firmeza da fé através do impacto da carta aos Romanos
em suas vidas. Todos os reformadores da igreja viam Romanos como sendo a chave
divina para o entendimento de toda a Escritura, já que aqui Paulo une todos os
grandes temas da Bíblia: Pecado, Lei, julgamento, destino humano, fé, obras,
graça de Deus, justificação, eleição, o plano de salvação, a obra de Cristo e
do Espírito Santo, a esperança cristã, a natureza e vida da igreja, o lugar do
judeu e do gentio nos propósitos de Deus, a filosofia da igreja e a história do
mundo, a mensagem do Antigo Testamento, os deveres da cidadania cristã e os
princípios de retidão e moralidade pessoal. Romanos nos abre uma perspectiva através
da qual a paisagem completa da Bíblia pode ser vista e a revelação de como as
partes se encaixam no todo se torna clara.
A IGREJA DE
ROMA
Não sabemos quem fundou a igreja de
Roma. Certamente não foi Pedro, ou qualquer dos outros apóstolos, já que Paulo
dificilmente enviaria uma carta doutrinária a uma igreja que tivesse à sua
frente um dos apóstolos. Nesta mesma Epístola ele diz que “não edifica
sobre fundamento alheio” (Rm
15.20). Entende-se que foram visitantes de Roma que estiveram em Jerusalém durante
a festa da Páscoa e se converteram no Pentecoste, voltaram a
Roma levando a semente do Evangelho.
Essa Igreja era predominantemente
gentílica, e estava agindo de forma intolerante contra os cristãos judeus que
obedeciam as regras alimentares e datas cerimoniais da tradição judaica.
DATA E LOCAL
ONDE A CARTA FOI ESCRITA
Ao escrever essa Epístola Paulo
estava em Corinto, na casa de Gaio (16.23) cristão rico daquela cidade, por
ocasião de sua terceira viagem missionária. A carta não é escrita de próprio
punho, Tércio se apresenta como o escritor (16.22). Quanto à data, existem
pequenas divergências, mas a mais provável é entre 55 e 57 d.C.
PROPÓSITOS
DA EPÍSTOLA
- Apresentar a doutrina cristã a uma
comunidade que não foi fundada por um dos apóstolos, talvez por esse motivo,
todos os pormenores doutrinários.
- Preparar os irmãos para uma visita sua
a cidade de Roma (15.23-33);
- Explicar o relacionamento entre judeus
e gentios dentro do plano global de redenção traçado por Deus.
PARTICULARIDADES
- Romanos é uma Epístola escrita para
uma igreja que Paulo não havia fundado nem conhecia pessoalmente;
- Seu estilo é mais um sistemático
ensaio teológico que uma carta;
- Impressionam a quantidade e a
importância dos temas teológicos tratados;
- É a maior de todas as epístolas de
Paulo, considerada “A Carta Magna do Cristianismo”.
TEMAS
A Epístola aos Romanos é uma resposta
completa, lógica e reveladora para a grande pergunta da humanidade em todos os
tempos: “Como pode o homem ser justo para com Deus?” (Jó 9.2). A discussão
sobre o tema justificação toma o espaço dos capítulos 1 ao 5. A
base dos argumentos de Paulo é a longânime, infalível e eterna justiça de Deus.
Ao escrever Romanos, Paulo também estava
profundamente atento ao fato de que a Igreja Cristã deveria ser uma comunidade
entre gentios e judeus, juntos na unidade do corpo de Cristo. Isto se torna
claro pela importância que dá a oferta gentílica para a igreja de Jerusalém.
Também vem à tona em todo o livro a unidade do gentio e do judeu. Unidos no
pecado, por causa de Adão, e na graça por meio de Jesus. A justiça salvadora do
evangelho é uma necessidade de ambos, já que todos pecaram. A salvação está à
disposição, já que vem pela graça por meio da fé. A operação desta justiça
salvadora na história é a pista para os propósitos finais de Deus para ambos –
judeus e gentios; e essa justiça salvadora deve ser expressa na vida desses
dois povos de maneira pessoal e comunitária, formando assim no corpo de Cristo,
como o novo povo de Deus.
Nessa Epístola o apóstolo deixa claro
que ninguém pode se aproximar de Deus senão pelo caminho estabelecido, Jesus.
CONTEÚDO DA
CARTA
CAPÍTULO 1
SAUDAÇÃO E APRESENTAÇÃO (1-6)
Na antiguidade, toda carta grega seguia
uma metodologia padrão de construção. A primeira parte deveria identificar o
remetente e sua saudação. Paulo se vale dessa formalidade para apresentar-se de
forma mais clara e ampla possível a uma comunidade de irmãos que até aquele
momento ele não conhecia pessoalmente, mas esperava conhecê-los em breve. O
apóstolo se apresenta como servo de Cristo. A palavra original doulos, derivada do verbo deo (algemar, aprisionar), significa também
escravo. Para um grego dessa época essa era uma expressão de vergonha e
rebaixamento. Para os judeus, entretanto, era a mais expressiva forma de se
posicionar em adoração ao Senhor Deus. Todo cristão é um servo do Senhor Jesus.
O termo “servo” exprime total entrega à vontade de Cristo.
Após uma saudação e ação de graças,
Paulo passa a discorrer sobre a revelação da justiça de Deus ao homem e a
aplicação desta a sua necessidade espiritual. De imediato introduz o tema
(Justiça de Deus) que deve ser base de toda experiência cristã, ressaltando que
ninguém pode entrar em contato com Deus, senão depois de estabelecida uma via
de acesso adequado. Apresenta-se como apóstolo dos gentios e deixa transparecer
seu direcionamento especial a estes, bem como a necessidade que todo homem tem
da salvação.
A SANTIDADE EM CRISTO (7-17)
“Santos”. A ideia da palavra no original é
santidade. Todos os cristãos são santos no sentido de serem separados do
pecado. O cristão deve chegar a Deus por intermédio de Cristo, não há outro
meio. Mas não pode chegar a Deus apenas para pedir, mas também para agradecer e
engrandecer o seu Santo Nome.
A REVELAÇÃO DE DEUS (18-21)
Ao expor o tema da justiça da parte de
Deus, Paulo arma o palco demonstrando que todos têm pecado e, portanto,
precisam da justiça que somente Deus pode nos dar. Demonstra a pecaminosidade
dos gentios e a dos judeus. O pecado alcançou a todos.
Defende o seu posicionamento de que todo
o homem, seja ele judeu ou gentio, não tem como atestar sua ignorância quanto à
revelação de Deus, já que Ele se revelou ao homem através da natureza. Em virtude
da revelação de Deus nas coisas criadas, e pelo testemunho de suas próprias
consciências, os gentios são indesculpáveis.
O PECADO DA IDOLATRIA (23-25)
Idolatria é conhecer a majestade
incomparável de Deus, e mesmo assim substituí-Lo por deuses fabricados segundo
o modelo de várias criaturas, isso para Deus é abominável. O homem conhecendo O
Senhor, sabendo que ele é o criador de todas as coisas, mesmo assim prefere
adorar a criatura. Deus criou o homem um ser adorador, mas essa adoração
deveria ser dirigida apenas ao Senhor. Infelizmente Satanás em toda sua astúcia
levou o homem a adorar todo exército dos céus, estrelas, sol e lua, adorando
ainda coisas que o próprio homem criou, coisas mortas, esquecendo de adorar ao
único Deus, que lhe presenteou com a vida. Deixando de dar glória a Deus o
único que vive para sempre, amém.
Por causa do pecado da idolatria, Deus
permitiu, num ato de castigo, que o pecado tivesse seu curso natural, isto é,
levasse o homem a cometer todo tipo de pecado.
O PECADO DO HOMOSSEXUALISMO (26-32)
O apóstolo não poupa palavras para
mostrar o quanto Deus odeia as relações sexuais anormais. O homem foi feito
para a mulher e a mulher para o homem, para Deus não há meio termo. Todos que
cometem homossexualismo terão a punição de Deus, se não se arrependerem. Quem
age de maneira devassa sexualmente, despreza o conhecimento de Deus, e estão
propensos a cometerem todos os tipos de pecado.
O cúmulo do pecado é aplaudir os pecados
alheios em vez de lastimá-los ou tentar trazer a pessoa ao arrependimento.
CAPÍTULO 2
OS MORALISTAS SÃO INDESCULPÁVEIS (1-16)
Independente do estilo de vida, Paulo
prova que todos os homens são pecadores, inclusive o moralista. Ele analisa o
homem que se “acha bom” segundo os padrões humanos. Achando-se melhor que
todos, critica os que não seguem o seu exemplo de moralidade. Julga-se bom
demais, por isso se acha no direito de condenar os outros, sendo ele mesmo
praticante dos mesmos pecados que condena. Segundo Paulo, tais pessoas são
indesculpáveis e não escaparão do julgamento de Deus.
Paulo nos ensina que Deus julga o homem
com base nas oportunidades e conhecimento que foram dados. Visto desta maneira
constatamos que os moralistas seguem apenas alguns mandamentos da Lei, e pensam
que dessa maneira conseguirão satisfazer a justiça de Deus.
OS JUDEUS E SEUS PRIVILÉGIOS (17-29)
Enquanto os judeus se vangloriavam dos
seus privilégios, a verdade era que suas vidas não estavam em conformidade com
o mandamento de Deus. Por esse motivo, Paulo os faz lembrar que maiores
privilégios implicam em maiores responsabilidades. E que quanto maior for a
revelação recebida de Deus, maior será a responsabilidade diante Dele.
Os judeus como povo escolhido de Deus
foram comissionados para serem a nação missionária, tinham a obrigação de
anunciar Deus ao mundo, não guardar a revelação apenas para eles. Agora,
considerando sua negligência ante a vocação divina, eles serão julgados nos
mesmos moldes dos gentios impenitentes.
CAPÍTULO 3
A FIDELIDADE DE DEUS (1-17)
Numa espécie de comparações em que Paulo
considera as vantagens de Israel, ele discorre sobre a incredulidade de Israel
e a fidelidade de Deus, mentiras dos homens e verdades de Deus: “Pois quê? Se
alguns foram infiéis, porventura a sua infidelidade anulará a fidelidade de
Deus? De modo nenhum; antes seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso; como
está escrito: Para que sejas justificado em tuas palavras, e venças quando
fores julgado” (3-4).
Mesmo os judeus tendo quebrado o pacto
divino, não significa que a promessa a respeito deles tenha falhado, ou que os
consertos e o plano de Deus se tornaram inválidos. O apóstolo afirma que isso é
impossível, pois a falta de fé dos homens não invalida a fidelidade de Deus (3,
5,9).
A LEI NÃO JUSTIFICA NINGUÉM (18-20)
Todos, judeus e gentios, são pecadores,
todos estão debaixo do pecado. O pecado domina o ser humano. Todos estão
debaixo do juízo de Deus e a Lei testifica contra eles.
Tendo traçado a extensão do pecado, e
revelado o seu amplo domínio sobre os homens, Paulo mostra que a Lei, na sua
insuficiência, para justificar o pecador, foi dada como espelho para revelar o
pecado, e não para livrar do pecado.
A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ (21-31)
“Porque todos pecaram e destituídos estão
da glória de Deus” (23).
Após argumentar que a Lei aponta o pecado
e a necessidade de limpeza, mas é incapaz de limpar o homem, agora o apóstolo
dá a conhecer com toda intensidade o antídoto, o remédio de Deus para o pecado.
O caminho de libertação do pecado e da culpa é a justificação diante de Deus
pela fé em Cristo Jesus.
Aos lábios que se calaram, rostos que se
abateram e sorrisos que se fecharam pela sentença de condenação, Paulo é o
portador da grande boa nova do perdão da culpa, e da libertação do pecado. Do
investimento de Deus, através de Jesus Cristo, em que a justiça é creditada ao
homem, assegurando-lhe a possibilidade de viver uma vida reta e de ter
garantido o pleno acesso a salvação eterna. Para o homem imerso em densas
trevas, esta mensagem faz raiar o Sol da Justiça, justiça que só o próprio Deus
pode prover.
O QUE É JUSTIFICAÇÃO?
Por justificação entende-se o ato pelo
qual Deus declara justa uma pessoa que a Ele se chega através de Cristo. Esta
justificação envolve dois atos:
1- O cancelamento da dívida do pecado na
“conta” do pecador.
2- O lançamento da justiça de Cristo no
lugar do pecado.
Em outras palavras, justificação não é
aquilo que o homem é ou tem em si, mas aquilo que o Senhor Jesus é e faz na
vida do que o aceita como seu único e suficiente Salvador. Desse modo,
justificar significa tornar ou declarar justo. É um termo legal, que implica em
processo legal. O resultado desse processo acontece quando Deus justifica o
pecador, tornando-o justo e reto, não pelos méritos do homem, mas pelos méritos
de Jesus Cristo.
A justificação é tão abrangente que, se
uma pessoa aceitou verdadeiramente a Cristo há uma hora, está tão justificada
quanto uma que O segue há muitos anos. A justificação não é como a santificação
que é um processo gradual. Nunca nos tornamos mais justificados por seguirmos
Cristo há mais tempo, somos justificados no momento que aceitamos o sacrifício
de Jesus por nós.
REDENÇÃO E PROPICIAÇÃO
Há duas palavras em Romanos 3.24-25, que
nos mostram como Deus resolveu o problema do pecador. São elas Redenção e
Propiciação.
- REDENÇÃO: consiste na compra de um escravo e sua imediata libertação. Cristo
mediante seu sacrifício nos comprou das garras do pecado de quem éramos
escravos e nos deu a liberdade.
- PROPICIAÇÃO: é tornar favorável a justiça divina descrita na lei, mediante um
sacrifício substituto e reparador, o qual leva sobre si as penas da lei, como
resultado dos pecados do mundo, removendo ao mesmo tempo o impedimento que
havia entre Deus e o homem. Propiciação se resume em remissão e perdão.
CAPÍTULO
4
ABRAÃO É EXEMPLO DE JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ
(1-23)
Depois de enfatizar que a justificação
não se fundamenta na Lei, mas sim na graça de Deus a todos que creem em Cristo,
agora será usado para explicar a justificação o exemplo de Abraão. Com isso
Paulo está dizendo que a justificação não é algo novo, pelo contrário, com
Abraão foi assim, ele foi justificado pela fé (v. 3). O pai da fé foi
justificado antes do estabelecimento da Lei, apenas por ter mostrado fé em
Deus. Com isso Paulo quer encerrar de vez a questão da importância da Lei na
salvação. A salvação está em Cristo Jesus.
Os judeus dos dias de Jesus citavam
Abraão como exemplo de justificação pelas obras, mas Paulo o enaltece como
exemplo de justiça pela fé. Abraão não tinha observado nenhuma lei, prestado
nenhum serviço, nem cumprido nenhum ritual que lhe pudesse ter servido de
crédito em sua conta corrente diante de Deus. Sua fé em Deus, que lhe fizera a
promessa, foi-lhe creditada como justiça.
As iniquidades na conta do pecador que
se arrepende param de ser creditadas por Deus, que lhe perdoa quando ele
arrependido confessa seu pecado.
CAPÍTULO 5
A JUSTIFICAÇÃO TRAZ PAZ COM DEUS (1-9)
A justificação traz paz com Deus. Essa
paz não é meramente um sentimento subjetivo, mas, sobretudo, uma posição
objetiva, um novo relacionamento com Deus. Antes da justificação, éramos
inimigos de Deus, mas agora justificados pela fé somo seus filhos e amigos (Ef
2.16).
Nos gloriamos nas tribulações. O cristão
pode regozijar-se no sofrimento por saber que este não está destituído de
significado. Parte da nossa tribulação é para produzir caráter aprovado por
Deus e perseverança.
Nossa esperança não pode ser equiparada
a coisas infundadas. Pelo contrário, nossa esperança é a certeza de nosso
futuro e tem como base o amor de Deus, revelado pelo Espírito Santo e
objetivamente demonstrado na cruz do Calvário.
O amor de Cristo tem como base a livre
graça de Deus, não resultando em algum mérito que porventura seja inerente ao
objetivo desse amor, que são os seres humanos. Na realidade, o amor de Deus é
derramado sobre nós, sem que nada tenhamos feito para merecer.
OS INIMIGOS DE DEUS (10-11)
O homem é inimigo de Deus, e não ao
contrário. Por isso a hostilidade precisa ser eliminada do homem para que se
efetue a reconciliação. Deus em seu imenso amor tomou a iniciativa ao
reconciliar-nos com Ele mediante a morte de Seu Filho amado.
Reconciliar é por fim as hostilidades e
passar a ter um relacionamento de perto. Por isso, na morte de Cristo na cruz,
o véu do templo se rasgou, simbolizando que Deus quer uma aproximação real com
o homem. Demonstrando que no que depender de Deus, não existe mais qualquer
impedimento ou muro de separação. Basta aceitarmos a Cristo.
ADÃO E CRISTO (12-21)
Na comparação entre Adão e Cristo, nos é
mostrado o triunfo da graça sobre o pecado. Com efeito, o pecado de Adão se
estendeu por toda raça humana para perdição; assim também o sacrifício de
Cristo tem efeito sobre todos os homens para a salvação. Adão representa a
condenação do homem. Cristo representa a justificação do crente e
consequentemente sua salvação.
A morte é a punição pelo pecado. É
também o símbolo da morte espiritual, que separa o homem definitivamente de
Deus. “Porque todos pecaram”. O contexto demonstra que o pecado de
Adão envolveu o restante da humanidade na condenação. Começamos a vida sem
esperança de vivê-la sem pecado; nós a começamos com uma natureza pecaminosa.
CAPÍTULO 6
ESTAMOS MORTOS PARA O PECADO (1-23)
O dom gratuito não estimula a prática do
pecado, pelo contrário, requer a crucificação da natureza corrupta do homem e
uma vida de serviço santo a Deus.
Para quem pensa que por causa da graça
de Deus o homem pode pecar deliberadamente porque a graça é maior que o pecado,
Paulo apresenta a receita para uma vida cristã autêntica, que tem como
princípio a santificação.
No batismo, morremos com Cristo para o
pecado e renascemos para uma nova vida. Ora, na ressurreição somos novas
criaturas, o pecado foi sepultado, então vivamos livres da escravidão do
pecado.
Ao explicar a lei da liberdade, Paulo
nos ensina que estarmos debaixo da graça não significa liberdade para fazer
tudo que nossa carne deseja, mas que o domínio de Cristo sobre nós coloca-nos
sob uma nova lei pessoal e mais elevada que a anterior, pois essa lei significa
uma união espiritual com Ele.
CAPÍTULO 7
A ANALOGIA DO CASAMENTO (1-6)
Paulo apresenta o assunto da nossa
relação com a Lei, tomando como base para explicação o casamento, no qual o
marido e a mulher estão ligados pela lei civil.
Quando morremos com Cristo,
ressuscitamos nova criatura. Desse modo, estamos mortos para a lei que antes
nos condenava. Estamos livres para nos unirmos a Cristo. O primeiro casamento
com a lei foi infrutífero, no tocante à justiça. O segundo matrimônio com Cristo
nos faz nova criatura e nos conduz a produzir frutos de justiça, ou seja, ações
que agradam a Deus.
AS TENDÊNCIAS PECAMINOSAS (7-24)
“Porque bem
sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado. Pois o
que faço, não o entendo; porque o que quero, isso não pratico; mas o que
aborreço, isso faço. E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa.
Agora, porém, não sou mais eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim.
Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com
efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está. Pois não faço o
bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico” (Rm 7.14-19).
O apóstolo fala claramente da sua luta
com as tendências pecaminosas e os desejos da carne. Durante séculos tem havido
um debate acirrado discutindo se Paulo está aqui referindo-se a uma experiência
cristã ou não cristã. Existem evidências que podem ser usadas para confirmar as
duas opiniões.
Para os que entendem que ele está se
referindo a uma vida não cristã, apresentamos as seguintes considerações:
1- O emprego das expressões “vendido como
escravo ao pecado” (v. 14), “Sei que nada
de bom habita em mim” (v. 18) e
“miserável
homem que sou” (v. 24).
Estas citações não parecem referir-se a experiência cristã;
2- O contraste entre o capítulo 7 e 8,
torna difícil acreditar que o trecho acima diga respeito a uma experiência
cristã;
3- Qual seria o valor da conversão se o
crente acaba caindo num tormento espiritual.
Para os que acham que Paulo está se
referindo a uma experiência cristã, temos as seguintes considerações:
1- O emprego do tempo presente no texto
inteiro;
2- O conceito humilde que Paulo tem de si
mesmo (v. 18);
3- Sua alta estima pela Lei de Deus (v. 14,16),
a localização desse trecho dentro da seção de Romanos que Paulo está tratando
da santificação.
A nossa opinião é que Paulo está se
referindo a sua vida atual, ou seja, vida cristã.
CAPÍTULO 8
ESTAMOS LIVRES DA CONDENAÇÃO (1-14)
Aqui temos a descrição culminante do
plano da salvação, uma vida espiritual de liberdade e justiça por meio da fé em
Cristo. Este é um dos grandes capítulos espirituais da Bíblia, no qual o
Espírito Santo é mencionado dezenove vezes.
“Nenhuma condenação há para os que estão
em Cristo Jesus”. Este
versículo é a chave para nos livrar dessa loucura que estão pregando em algumas
igrejas, a “Maldição Hereditária”. Quando aceitamos a Jesus, todo o nosso
passado de pecado é apagado por Deus, que não se lembrará mais dele (Hb 10.17).
- Estamos em Cristo Jesus!
- Fomos justificados!
- Estamos mortos para o pecado!
- Somos nova criatura!
- Nossos pecados foram esquecidos!
- Nenhuma condenação há!
Então qual é a explicação para fazer os
servos de Jesus acreditarem que é possível que haja alguma maldição em sua vida
porque um antepassado seu pecou contra Deus? Se alguém de sua família pecou e
não se arrependeu, ele pagará por seu pecado, cada um dará conta de si mesmo a
Deus (Rm 14.12).
AGORA SOMOS FILHOS DE DEUS (15-17)
Agora somos filhos de Deus e o Espírito
Santo testifica isso em nós. Logo somos herdeiros de toda glória celeste. Mas
aqui fica um porém: para sermos herdeiros juntamente com Cristo, precisamos ser
participantes dos seus sofrimentos. Ou seja, na vida cristã não existe só
vitória, lutas também virão.
CAPÍTULOS 9
A 11
Até aqui foi revelado o plano divino da
salvação pela fé. Agora ele se dirige especificamente aos judeus. Várias
perguntas são propostas, tais como: “se os judeus foram rejeitados como nação,
que será das promessas do Velho Testamento?”; “Se Israel é o povo escolhido de
Deus e que recebeu Sua Palavra, as alianças e a Lei, por que rejeitou como
nação o seu Messias?”; “Será Israel restaurado ainda?”.
A POSIÇÃO DE ISRAEL COMO NAÇÃO (9.1-5)
O primeiro problema tratado por Paulo é
o da resistência de Israel ao Evangelho. A tristeza do apóstolo por eles leva-o
a desejar sacrificar sua própria vida, se isso de alguma maneira pudesse
contribuir para a salvação de seu povo.
A ELEIÇÃO DE ISRAEL (9.6-13)
Temos aqui uma ilustração da soberania
de Deus para escolher quem Ele quiser. A ilustração para demonstrar essa
soberania é a escolha de Jacó em detrimento de Esaú. A distinção entre os
descendentes naturais de Abraão e os espirituais.
“Pois nem todos os descendentes de Israel
são Israel” (v.6).
Paulo não está negando a eleição de todo Israel (como nação), mas declara que
dentro de Israel há uma separação entre o Israel que aceitou o Messias e o
Israel que não aceitou. A descendência física não é nenhuma garantia de
inclusão na família de Deus.
DEUS É SOBERANO (9.13-21)
“Amei a Jacó, mas odiei a Esaú”. Paulo está claramente lidando com a
eleição individual, não nacional. A intenção de Paulo fica evidente, tendo em
vista o problema com o qual está lidando: como pode a promessa de Deus
continuar firme quando tantos dos que integram Israel são incrédulos e, por
isso, eliminados da aliança?
Deus é injusto? Injusto ao eleger, com
base em sua soberania, como no caso de Jacó e de Esaú?
Não houve injustiça da parte de Deus em
escolher Isaque e Jacó em detrimento de Ismael e Esaú. Ao mostrar o direito
soberano de Deus na escolha, Paulo relembra o que Deus falou a Moisés “Terei
misericórdia de quem Eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem Eu quiser
ter compaixão” (Ex
33.19). Este versículo é uma declaração incontestável da soberania de Deus.
Ele é livre e age sempre de forma justa
com sua criação, conforme sua vontade. Como Deus agiu com Faraó, alguns
interpretam que o rei do Egito foi predestinado para a perdição, pois ele teve
o coração endurecido por Deus (Ex 8.15-23). Deus não é um juiz que age sem
misericórdia, pois Paulo em última análise apresenta como motivo da rejeição de
Israel a sua incredulidade (v. 30-32). Alguém ainda pode dizer: “Se Deus
determinou quem terá ou não o coração endurecido, como pode culpar alguém por
endurecer o coração?”. Paulo responde: “Quem é você, ó homem para questionar a
Deus?” (v.20). Paulo não está silenciando a todas as
perguntas que os homens querem fazer a Deus, mas fala da atitude impenitente de
desafio a Deus, os quais querem que Ele preste contas à raça humana por seus
atos, difamando assim o caráter do Criador, ao questioná-lo.
DEUS NÃO PRESTARÁ CONTAS AO HOMEM
(22-24)
Ninguém por mais poderoso ou santo que
seja, pode obrigar Deus a prestar contas de seus atos soberanos. Mas mesmo
assim Deus não exerce arbitrariamente sua liberdade de escolha, demonstrando
grande paciência mesmo para com o objeto de sua ira, que é o pecado.
JUSTIÇA PRÓPRIA (10.1-3)
A má interpretação que os judeus fizeram
do plano divino resultou na sua própria justiça. Aqui os judeus são tratados
como indivíduos e não como nação. Eles precisam de salvação, e salvação é
individual. Ela é oferecida por Deus mediante a fé.
A PREGAÇÃO DO EVANGELHO (10.4-18)
A explicação do plano de salvação pela
fé e a promulgação de sua aplicação universal é feita pelo apóstolo. Mas, para
que haja a aplicação é preciso que o plano de salvação seja anunciado a todos
os homens. E este anúncio é dever da Igreja de Cristo. O evangelho precisa ser
pregado pelos enviados de Deus para esse fim.
CIUMES DOS GENTIOS (11.1-16)
Se a transgressão de Israel redundou em
riquezas para o mundo, o seu abatimento em riquezas para os gentios - Riqueza
do conhecimento de Cristo e o plano de salvação - que dirá da plenitude dos
judeus, que bênçãos mais trará para toda humanidade? Paulo tenta fazer com que
a salvação e filiação com Deus dada aos gentios faça ciúmes a seu povo e isso
os traga de volta para Deus.
OS GENTIOS FORAM ENXERTADOS (11.17-24)
Para haver o enxerto é preciso que se
faça um corte na planta. A poda de alguns ramos, que eram os judeus que não
aceitaram o Messias, abriu brechas na Oliveira para que os gentios fossem
enxertados. Uma vez enxertados somos participantes da seiva.
Mas não pense que você foi enxertado por
seus méritos, cuidado! Se os ramos originais foram cortados por causa de sua
incredulidade, então devemos a cada dia com humildade reconhecer que somos
dependentes da misericórdia de Deus.
A raiz da Oliveira representa os
Patriarcas. A Oliveira inteira representa o povo de Deus.
ISRAEL SERÁ SALVO (11.25-32)
Chegando a plenitude dos tempos, Israel
será vivificado e restaurado. Deus se voltará para Israel por causa da Sua
fidelidade ao pacto feito com os patriarcas. A cegueira dos judeus chegará ao
fim com a vinda do libertador de Israel, ou seja, Israel reconhecerá Jesus como
o seu Messias.
CAPÍTULO
12
PRÁTICA CRISTÃ
Este capítulo apresenta um dos melhores
resumos dos deveres cristãos encontrados na Escritura. Paulo detém-se nos
pormenores para demonstrar que Jesus Cristo é o Senhor de todas as áreas da
vida do crente. Toda epístola procura demonstrar que Deus exige nossa atuação
como cristãos fazendo a diferença no mundo de pecado, bem como nossa fé
demonstrada na obediência.
O Poder concedido por Deus a cada crente
para cumprir vários ministérios na Igreja, não pode ser motivo para alguém
tomar atitudes de superioridade ou de justiça aos próprios olhos. Paulo
assemelha os cristãos aos membros do corpo humano. Há muitos membros e cada um
tem uma função, mas todos são necessários para a saúde do corpo. Isso ensina
que para Deus não há “queridinhos”, todos são importantes. Se cada um respeitar
a importância do outro, naturalmente a unidade da Igreja de Deus será mantida.
Os cristãos têm responsabilidades
sociais para com todas as pessoas, mais ainda para com os outros de sua
congregação (v. 13).
CAPÍTULO
13
OS DEVERES CIVIS (1-7)
No seu ensinamento sobre a postura
cristã no mundo secular, Paulo não se esqueceu de falar sobre o respeito para
com as autoridades constituídas. Foi enfático: “Toda
Autoridade Vem de Deus”.
Não vamos pensar assim: “Paulo diz isso
porque ele não conheceu as autoridades de nossa época”. As autoridades a quem
Paulo está se referindo, em sua grande maioria perseguia a Igreja, muitos
cristãos foram mortos, presos, açoitados e expulsos de suas casas por essas
autoridades, inclusive o próprio Paulo.
NÃO DEVER NADA A NINGUÉM A NÃO SER O
AMOR (8-15)
Aqui não está sendo ensinado que não
podemos fazer dívidas, mas sim que devemos pagá-las. Não cumprir corretamente
com nossos compromissos e com a palavra empenhada ou um contrato firmado, é
agir expressamente contra a vontade de Deus, Senhor da Justiça. Devemos, no
entanto, sempre nos sentir devedores do amor para com nossos irmãos, isto quer
dizer que, nunca devemos achar que estamos dando mais amor do que alguém
merece, e sim que nosso amor está sendo insuficiente. O nosso amor deve ser
estendido a todas as pessoas, pois Jesus ensinou que o próximo é qualquer
pessoa necessitada (Lc 10.25-37). Devemos buscar e desejar o maior dos Dons,
que é o Amor (1 Co 13.13). O amor também é um dos mandamentos confirmados por
Jesus (Mt 22.39). O amor resume todos os mandamentos.
CAPÍTULO 14
LIBERDADE E AMOR CRISTÃO (1-23)
Os cristãos judeus estavam sendo
rejeitados pelo grupo de gentios que era maioria na Igreja de Roma, pelo fato
deles ainda se sentirem na obrigação de seguirem os ritos das leis alimentares
e a guarda de dias sagrados, como o sábado. Paulo ensina que não devemos julgar
nossos irmãos pelo comer ou outras coisas que ele faça achando que com isto
está agradando a Deus. Se tratarmos nossos irmãos com amor, nossa atitude será
de compreensão com as fraquezas dos outros.
O texto mostra que não devemos limitar a
liberdade pessoal do nosso irmão por qualquer juízo humano, mas cada um deve se
limitar no exercício de sua própria liberdade. Embora o cristão se sinta livre
para fazer coisas que para outros são consideradas pecado, deve considerar o
efeito de suas ações sobre os outros e assim evitar que suas atitudes
escandalizem e façam desviar da graça de Deus o irmão mais fraco.
CAPÍTULO 15
SIGAMOS O EXEMPLO DE CRISTO (1-6)
“Nós que
somos fortes”. Paulo
identifica como cristãos fortes aqueles cujas convicções lhes permitam mais
liberdade que aos fracos. Suportar a fraqueza dos fracos, não é meramente
tolerar, mas agir com amor, sem humilhação. Fraquezas aqui não significam
pecados, mas sim insegurança quanto a algumas atitudes. “Não agradar a nós mesmos”. Não é que o cristão não tenha direito
de agradar a si mesmo, mas não deve insistir em fazer o que quer sem levar em
conta as fraquezas de outros cristãos.
Usando o exemplo de Jesus, que não
agradou a si mesmo, Paulo chama nossa atenção para que como servos de Deus
tenhamos em mente nossa responsabilidade quanto ao irmão mais fraco. Nós que
somos fortes devemos muitas vezes deixar de fazer o que nos agrada e colocar em
primeiro lugar a comunhão com todos os irmãos.
AJUDAR AOS PREGADORES DO EVANGELHO
(15-24)
Paulo está acreditando que a Igreja de
Roma o ajudará na sua viagem à Espanha, para levar o evangelho. Isso deixa
claro que a Grande Comissão (Mc 16.15) é para toda a igreja e não somente para
os pregadores. Se eu não posso ir ao campo levar a mensagem, devo ajudar a quem
está indo.
CAPITULO
16
SAUDAÇÕES PASTORAIS (1-16)
Seja qual tenha sido o propósito do
Espírito, certamente Ele quis conservar este quadro nominal de cristãos do
primeiro século que estiveram pessoalmente com o apóstolo Paulo e merecem dele
a devida honra. Sigamos seus exemplos.
AVISO CONTRA AS DIVISÕES (17-20)
Paulo não se esqueceu de alertar a
Igreja sobre os que causam divisões e colocam dificuldades no caminho do
evangelho. Era muito comum aparecerem nas igrejas pessoas que se diziam irmãos,
mas na verdade traziam ensinos espúrios e deturpações do ensino dos apóstolos.
DOXOLOGIA (25-27)
O apóstolo encerra a carta com um hino
de louvor a Deus.
ESBOÇO DE ROMANOS
I – Introdução – 1.1-17
Apresentação pessoal, saudação, tema
(16-17).
II – O problema humano – 1.18 a 3.20.
O pecado, sua universalidade e suas
consequências.
III – A solução divina – A salvação:
3.21 a 5.21.
A origem do pecado e a origem do perdão.
O método da salvação: justificação pela
fé no sacrifício de Cristo.
IV – A santificação – 6 a 8.
Ação do Espírito Santo na vida do salvo.
V - A soberania divina – 9 a 11.
Judeus e gentios no plano de Deus.
VI – O cristianismo prático – 12 a
15.13.
A vida cristã na igreja, na sociedade e
nas relações pessoais.
O serviço cristão.
V – Conclusão – 15.14 a 16.27.
Assuntos pessoais, admoestações e
saudações finais.
SINOPSE DE
ROMANOS
O PLANO DE SALVAÇÃO
Sua
necessidade:
fundamentada na culpabilidade universal da humanidade:
Dos gentios (1.18; 2.16)
Dos judeus (2.17 a 3.20)
Todos são pecadores (3.23)
Seu método: justificação ou justiça pela fé
(3.21-28)
É universal (3.29-30)
Honra a Lei (3.31)
Ilustrado na
vida de Abraão: creu Abraão e isso lhe foi imputado como justiça
(cap. 4)
Independente das obras (4.1-6)
Independente da Lei (9-12)
Separado da Lei (13.25)
Suas bênçãos: se tornam efetivas através do amor de
Deus, que é manifestado no sacrifício de Cristo (5.1-11).
O alcance: o dom gratuito da salvação alcança todos
os homens (5.12-21).
Postado por Seminário - SEPAR
Autor: J. Dias
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